Corrido

Correu meu dia todo
Como nunca correram meus planos
Se foi, e pro meu desengano,
Amanhã ele corre de novo

Desmanchada

Em que passo?

Se ora ando torto

Ando de lado

E você nesse compasso

Acelerado

E tão pausado

Na ponta do dedo

Na ponta do laço

Em que traço?

Se ora muda o rosto

Muda o quadro

E tão cansado

Volto a ser moço

Encabulado

Pintor de parede

Pintando retrato

Em que braço?

Se ora toma jeito

Pega um rumo

Se endireita toda

Maquiada

E de tão frágil

Anda à frente

Cai do palco

Em que frasco?

Se ora arruma prosa

Vai com vento

Em mil pedaços

Desmanchada

De tão perfeita

Chora triste

Não existe

Copa

Assim se dá a vitória
Quando o melhor na chuteira
Tem seu momento de glória
E faz honrar sua bandeira

Cumprimento

Grato pelo cumprimento
Um estranho íntimo se sai melhor
Do que um amigo de momento
Que esquece, e te erra de cor

Fôlego

Um palmo pra te alcançar
É uma mão que nos separa
Mas quando eu prendo o ar
Te alcanço, e o coração dispara

Números: Dez

Tem dedos no mundo
Que não tem anéis
E quando se vão
Permanecem dez

Números: Nove

Antes de apostar na sorte
Eu aconselho e reitero
É como na prova dos nove
Noves fora, zero

Números: Oito

As canções iniciais
Cantadas sem palavras
Em sete notas musicais
Divididas em oitavas

Números: Sete

Entre pecados e cores

Dias de semana, vidas e morte
Sete são as vezes
As vezes que tive sorte

Números: Seis

Sou de um alourado amarelo
Que prefere vós a vocês
Prefiro escolher o pó ao farelo
E trocar meia dúzia por seis

Números: Cinco

Engana-se quinta estrela
O país nunca deixaria
A reza queimando na vela
E a invejável categoria

Números: Quatro

Quatro paredes nos fecham
Num ser que reflete e se mata
Quatro estações me transformam
Num homem que cede e que acata

Números: Três

O primeiro e o segundo
É o suspense sorrateiro
Em todo canto do mundo
O outro é sempre o terceiro

Números: Dois

Precisa que esteja
Quando o outro te chama
Dois é o desejo
De toda gente que ama

Números: Um

Inteiro e imponente
Me foge ao imaginário
Porque é o único que sente
O coração solitário

Balança

Não há o que se equilibre
Nesse tempo de orgulho e ego
A crítica não é mais livre
E a raiva te deixa cego

Clichê

Falta criatividade
Na maneira que pensa
Isso não vem com a idade
Isso é de nascença

Fração de Segundo

Achei que tivesse morrido
Ido embora do mundo
Ainda agora te vi sorrindo
Você sumiu no nada
Na fração de um segundo

Cheiro de Serra

Respiro a mesma fragrância
O mesmo cheiro de serra
Inspiro a mesma confiança
Cheiro da tristeza quando erra

Flauta Doce

Num embalo entre o ar
E o percorrer desses vãos
Transformo sopro em cantar
Com o movimento das mãos

Outra Chance

Uma frase denota sua dor
A ouvi no fundo do seu pranto
Essa sua vontade de viver o amor.
Basta procurá-lo noutro canto

Adolescência

Nos meus sonhos de futuro, a essência
Era uma vida realizada, longe do tumulto
Pularia a embriaguez da adolescência
E passaria logo de criança pra adulto

Nada Sabe

Desvendou a natureza
Nunca teve ferida
De prontidão pra surpresa
Leva a vida iludida

Moças a Passeio

Quem me merece
É a moça do meio
Na foto que aparece
Duas moças a passeio

Vela

Vela, ascende minha prece
Dia de reza, de oração sincera
Pedi pra que tudo regresse
Mas nem tudo voltar como era

Imaginação Fértil

Parece que é tudo fruto
Que cai maduro e apodrece
A imaginação me é semente
Que se perde, mas germina e cresce

Tímido Audaz

Primeiro vem a vontade
Se ela mexe com o corpo
Ele entende que por vez
Não passa de vaidade
Depois que vira esforço
É que vem a timidez

Logo o Coração

Difícil de se apaixonar, não nego
Não enxergo um palmo a frente
Talvez devaneio ou capricho do ego
Pudera, se nessa história quem sente
É logo o coração, pois que ama cego

Eu Miúdo

Se você passar pelas nuvens
Verá que há tempo pra ser tudo
Cair do alto desse mundo
Ver a beleza sob um eu miúdo

Lágrima

Joga fora a mágoa
Ela tá disfarçada
Dissolvida em água
Não é quase notada

Soturno Grotesco

A morte não me assombra
A foice é cega e sem corte
A penumbra é a sombra fraca
E esse vento um sopro forte

Dia Normal

Hoje é um dia normal
Sem fogos nem gritos
Sem tiros, sem morte
Sem fatos ou mitos
Sem graça, sem sorte

Banho Frio

Muitas marés
Uma onda de marasmo
Lavam os meus pés
E todo o entusiasmo

Fim Precoce

Este é o final da partida
Esta é a cara cansada
Da minha vida curtida
Da minha vida encurtada

Assentamento

A terra desabriga
Seca o suor do dia
Resgata a tristeza antiga
Esgota toda a alegria

Cego

Fica cego quem está amando
Não enxerga a maldade
Não sabe se está sonhando
Ou vivendo de verdade

Maré

Quando botei o pé n'areia
Prestes a esticar o fio
Fui a pescar sereia
Me dei com o mar vazio

Consentimento Mútuo

Consentiu nesse soneto

Do seu ventre veio o fruto
Era pintado de branco e preto
Declarava paz e luto

Confiante

De qualquer maneira
Completar o trajeto
Quando tudo é poeira
A esperança é o concreto

Menina da Carroça

Menina da carroça
Que leva um pano nos cabelos
O peso da vida nos ombros
O dourado do sol nos pêlos
Me leva pra ver seu mundo
Tingido com as suas cores
Sonhado num sono profundo
Vivido na falta de amores

Asa de Papel

Você ficou efêmera
Volta a qualquer hora
Asa que te esconde
E te leva embora

Orvalho

Onde não tem afeto nem fogo
Semente nenhuma brota
O orvalho é o último suspiro
De um amor frio que se esgota

Cavalete

Nessa tela que eu mesmo faço
De serenidade estás repleta
É o seu rosto lindo que eu traço
Pra eu me apaixonar todos os dias
Por nossa pintura incompleta

Esperteza

Estou diante da incerteza
Se o jeito manso me estraga
Já esperteza não põe mesa,
Come o prato e não paga

Natação

Nessa prefiro estar de fora
Ou me sustentar do lado raso
Ensinar quem começa agora
Ser sempre aluno do acaso

Rubro

Eu sou um resto de fogueira
De pouco caso pra quem ama
Se me assoprar em demasia
Minha brasa vira chama

Mistura Perfeita

Eles não se bicam mas cantam
Pra afastar a antipatia estreita
Quando em uníssono encantam
Se amam na mistura perfeita

Psíquico

Escuta o sonho de perto
Não há porque ter medo
Se o mistério é incerto
O incosciente é um segredo

Caixa de Pandora

Inteiramente fechado
À prova de bala e fogo
Mas se abrir o cadeado
Consegue entrar no jogo

Inconsciente Teimoso

O que se passa pela mente
Fica sem compromisso
O que se pensa no lugar
Pra nunca mais pensar nisso?

Dei Corda

Toquei um violão sem corda
Um novo tipo de canção
Na mente sem partitura
Dei corda pra imaginação

Voz Divina

O juízo final começou
Tenho um sermão em frase resumida
Deram muita importância pro show
E pouca importância pra vida

Pedia uma Moça

A vela derreteu
Vai ter reza no escuro
Achá-la nesse bréu
Vai ser trabalho duro

Sorte Fraca

O desafio foi pequeno
Ou foi falta de sorte?
Não invandiu meu terreno
Não é forte nem meu forte

Frustrado

Salvo pra quem arrisca
O alvo já estava traçado
Morderam a minha isca
Mas eu que fui fisgado

Cristo Coberto

Está preso no alto do morro
Entre vigas de ferro e metal
Se o carioca pedir socorro
Um tiro no coro será fatal

Ninho

Antes que o sabiá assovie
Espero que você me encontre
Nesse ninho que eu ainda monto
Pra alçar um voo que te encante

Bucólico

Um dia vou sair de casa
Pra morar no campo
Pra sentir a pureza
Pra treinar um canto

Tão Singular

A alegria e tão singular
Que não merece ser pequena
Mas não dá nem pra imaginar
O desejo de pedí-la plena

Triúnfo

Vitória de um perdedor
Derrota do primeiro lugar
O perdedor supera a dor
E vence porque suporta
Até onde essa dor vai dar

Bainha de Graça

Quando agulha leva a linha
Ela coze um remendo novo
Dando ponto sem nó, sozinha
E espetando a carne do povo

Carona de Ida

Se a vontade é ficar parado
Esperando o balanço da ré
É melhor que salte logo
A vida não é como já foi
E nem será como já é

Difícil

Difícil pode parecer antes
O durante é suportável
Pra tudo que é humano
É no final solucionável

Orfãos

Se as árvores falassem
Contariam em que paradeiro
Encontra-se a Mãe Natureza
Que não pôde cuidar por inteiro
De seus filhos e de sua riqueza.

Verborragia

A verborragia
É um tiroteio
Dito em um minuto
Besteiras de um dia e meio

Bússola de Sol

Me indique um caminho
Eu peço que se pudesse
Me deixar sozinho
E fugir de onde ele aparece.

O Medo do Ego

Beliscar o desafio
é melhor que se acovardar
Mas nem mesmo um elogio
Pra te massagear

Corpo Mole

Porque não se arriscar dessa vez?
Qual vai ser a próxima?
Não faz corpo mole pra vida, rapaz
Das hipóteses a máxima:
Deixa que o tempo faz

Irredutível

Estranha cabeça dura
Num corpo firme e mole
Se veste numa armadura
Pra guerra que ela escolhe

Álbum de Fotos

Nas fotos desse álbum empoeirado
Eu me agarro no tempo mas o tempo me solta
E caio girando nesse presente fechado
Pedindo a mão do tempo e gritando: volta, volta!

Meditação

Só é escrito o destino
Se a mente apagada
No vazio divino
Onde a vida é criada

Outuno

Depois do verão quente o alívio

Mas cai da árvore outro amor
O outono é mesmo seco e frio
Mas com o aroma da melhor flor

Como Eternizar

É a solução que posso nos dar
Como Romeu com Julieta faria
Se na morte vamos amar
Sem ter medo que acabe um dia

Infinita

É muito simples pra mim
Não tem segredo nem senha
O bom da vida não tem fim
Não que a tristeza tenha

Vinho Tinto

Vem cá, me traz uma taça
Vou encher com tudo que sinto
Calma, alegria e desgraça
Sinta bem o aroma , o sabor
E a textura de um bom vinho tinto

Véspera

Na véspera é correria
Dia de preparação pro dia
Eu pequeno sempre achava
O dia de antes a alegria
E que o dia mesmo voava

Espaço Miúdo

Dessa estrofe não passa
É o espaço que tenho
O limite ameaça
Se quiser me expressar
Devo ter mais empenho

Segundo Melhor

Preferia que tivesse demorado
O tempo que vos falar incerto
Se essa dor tivesse curado
Já que dizem que é o melhor remédio
Teria a ferida fechada
E o coração aberto.

Mentira

Uma menitirinha qualquer
Pra que eu possa ser centelha
E cause nesse mar manso
A agitação que a verdade não quer
E que a vida sóbria não aconselha

Segunda Vida

Se ainda é normal
E se não me esqueço
É que no final
É tudo igual ao começo

Nunca se Soube

Se revelassem a morte
Iriam migrar dessa vida?
Pode ser que tenha azar ou sorte
Aquele que está de partida

Primeira Regra

Se rima é forma
E forma não é tudo
Pode ser rima pobre
Mas ter conteúdo

Razão Poeril

Depois das folhas
O que mais se perde no ar
É a razão, tão leve
Que num farfalhar
Basta um vento breve
Pra se dispersar

Debaixo dos Panos

Sinceridade é relativa
Ninguém sabe mentira de cor
Esteja racional ou emotiva
A verdade é sempre maior

Palavra Proibida

Corra rápido e sem pressa
Não importa chegar em primeiro
Mesmo que no fim da vida
Surja um medo sorrateiro
Diga que aposta outra corrida
Pois 'nunca' é palavra proibida

Lua Nossa

Esteja bem bonita
Essa noite é lua cheia
Noite de paz infinita
E de briga alheia

Cópia da Réplica

Uma figura cética
Quase toda natural
A cópia da réplica
Não mas imita o real

Gaveta Pesada

A vida é de leveza
Pois é preciso força
Fortaleza? que nada!
Gaveta pesada
É preocupação acumulada

Foto Irreal

Bela fotografia de mim
Mas bela é esta com você
Mostre que somos assim
A farsa em foto não se vê

Não Vermelho

Faça jus a essa cicatriz
De quem muito sofreu de amor
Estás amputado desde a raiz
Hoje vê o sangue d'outra cor

Mordomia

Você não quer facilidade
Quer mordomia
Essa não é a vida de verdade
Que você estaria

Bomba de Fumaça

Lanço a bomba de fumaça
Pra me esconder na neblina
Se qualquer motivo ameaça
Enquanto eu estiver sumido
É que a guerra culmina

Desdém

O desdém é a sujeira no prato
De quando se come com a mão
É a refeição fria do ingrato
Que cuspiu a gratidão

Pátio que Lamenta

Aqui no pátio ninguém brinca mais
Esse chão velho e imundo aguarda
A meninada que outrora pulava.
Hoje a vida é quem desfaz
A infância que não tarda
Ser logo deixada pra trás

Flores Jovens e um Funeral

Pego um punhado de terra
Rego um punhado de flor
Jogo na fossa essa terra
Me despeço de um velho amor

Simpatia

Não vou dizer que quero a mentira
Mas saiba que na natureza
A simpatia é o que admira
Pois antipatia não é franqueza

Falso Amor

Uma nota falsa de cem
Comprou um amor de verdade
Só que o vendido não é alguém
Que ame por sua vontade

Rebuscado

Posso ser claro

Ter nexo

Num verso raro

E complexo

Um Equilibrista

Conheci um equilibrista
Que andava sem vareta
Um dia sumiu de vista
Mas deixou o coração
Dentro de uma gaveta

Outra Chance

Quando os homens morrerem
Vão estar arrependidos
E se nascerem novamente
Não vão fazer diferente

Fogo de Palha

Se a faísca falha
Não vai ter fogueira
E se a chama brota
Não é luz inteira
É fogo de palha.

Aurora

Não fomos maldosos
Não fomos travessos
Não fomos audazes
Não fomos avessos
Nós fomos crianças

Contra Pesos

No meu caso quem se manifesta
É a voz da inexperiência
Que prevê que a vida não é só festa
Porque só viveu boa vivência

O Tal do Julgamento Onipresente

Eu perguntava se tinha troco
Ele pedia que eu desse mais
Disse que estava no pior sufoco
E que Deus puniria se eu andasse pra trás

Brainstorm

Num mundo bem cheio de gente
Não tem voz quem tem ideia igual
Mas quem hoje fala diferente
Chegou a pensar no convencional

Barreira Social

A traição de quem conhece
E uma conversa com o inimigo
Eis que ninguém merece
Ter intimidade comigo

Canto do Mundo

Desse jeito que vamos cantando
Sem sorrir, sem se olhar, sem gostar
O mundo vai se esvaziando
Esperando que falte o ar

Artesão

Artesão que sabe o ofício
Se arrisca desde o início
Pois não há trabalho feito
Se tentar de outro jeito

Feroz

Seu olhar é uma faca afiada
Que me retalha por inteiro
Alguém que antes era nada
Agora é meio prisioneiro

Cenários de Filme

Atores, atrizes
Diretores, diretrizes
Que me levam embora
Para lugares felizes

Máscara

Esta máscara que fiz
Já não cabe no meu rosto
Meu reflexo infeliz
Chora e vaia com desgosto

Não Vá

Me dê ao menos um motivo
Porque está de partida
A morte não é paliativo
Nem soluciona a vida

Assovio Falho

Faltou ar pra respirar
Nesse jogo de assovio
De tanto soprar ar quente
Eu fiquei com frio

Desejo aos Descendentes

Espero muito que as conchas
Quando secarem as marés
Cantarolem o barulho das ondas
Lá pro ano de três mil e dez

Distraído

Me peguei distraído, de lado
Vendo o tempo passando
Prestando atenção no passado
Deixo o presente passar voando

Menos Sujo

Um fiapo a menos na meia
Pra dar um caráter imundo
Minha alma seria tão feia
quanto um sorrir vagabundo?

Beijo Sábio

Seu beijo é sábio
Como doçura de mel
Que só adoça o lábio
Num sabor infiel

Mal Comparando

Nessa curva não tem abismo
Nessa nuvem não tem temporal
Esse homem não tem cinismo
No ser humano não há mal

Urca

Privilégio de viver na parte bela
Num bairro calmo de vento lento
A vista mais linda da minha janela
É a janela do seu apartamento

Devora

Você me fulminou a queima-roupa
Num súbito piscar de um olho só
O clima todo te deixou meio louca
Terminou ao que restou só o pó

Quase Alegria

A mágoa que sinto
É quase alegria
Em um labirinto
A dor alivia

Gêmeo Revés

Pra um a exceção
Pra outro a regra
Indica a condição
Que o outro entrega

Faísca

Um problema não depende
da inicial dimensão
É a faísca que acende
E um dia causa a explosão

Perigo

É só um pouco perigoso
Te asseguro que na ida
É até um medo gostoso
Porque se pensar bem
Mais perigoso que a vida...

Lição do Louco

Solte as pontas do barbante
O pião já está rodando
Siga a vida adiante
Nem que seja brincando

Palhaço Sério

Numa onda de puro sarcasmo
Um palhaço sorria sério
O humor lhe parece um marasmo
E a vida um momento aéreo

Bloco do Folião Contido

No bloco de um folião contido
Não tem confete nem serpentina
Não tem pierrot nem colombina
No carnaval desse pobre alguém
Não tem moça e não tem menina
Tem sim um coração ferido
De quem não vai encontrar ninguém

Conselho Algum

Hoje Deus fantasiado de gente
Num conselho indiferente
De toda a gente comum
Falou que pra ter sucesso
É preciso ser qualquer um
Nem manso, nem exigente

Calado

Silenciar a única voz que fala
É estabelecer um final
Quando o agora se cala
o futuro é imaterial.

Dom

Os acordes do sujeito
Que sem jeito se envergonha
Nem precisam de compasso
Quem é bom já nasce feito
E quem tenta um dia sonha
A despeito do fracasso

Canções Estrelas

No suspiro da madrugada
Quando as folhas esmorecem
Eu presto atenção no céu
A inspiração salvaguardada
Que as horas esquecem
Formam as estrelas no papel

Desassossego

Uma pontada de dor na nuca
E um resto de alívio que sobra
Se o sufoco não mais machuca
A preocupação redobra

Não há como prever

No futuro próximo toda essa gente
num súbito susto enfim verá
Que nenhum ser humano sente
Ou prevê aquilo que será

Pé no Céu

Seja como queira, vou usar chapéu
Nem que seja por alguns momentos
Talvez bloqueie meus pensamentos
Pra que um dia eu desça do céu

Presságio

Tá tudo dando tão certo
Que eu nem enxergo o confim
Quando a felicidade tá perto
Ela parece estar no fim.

Lágrima Pura

Uma gota de lágrima pura
Pra dar ao traço um tom real.
Transforma desenho em gravura
Quando o pranto acabar no final

Alegria Eterna

Vivo esperando a alegria eterna
E trocar a dor por momentos certos
Se hoje mal posso com essa ânsia interna
Já durmo à noite com os olhos abertos

Fevereiro

Abre-se o dia quente mais uma vez
Num movimento manso ideal
O vento tumultuado do segundo mês
É a chamada breve pro carnaval.

Mais alto que tudo

Desenrolei todo o carretel de uma vez só
Pra ver minha pipa mais alta que tudo
Antes quisesse um voo baixo e miúdo.
Quando se quer tudo, tudo vira pó.

Ventos

Estamos só eu e o vento
Rumo a outra desventura
É chegado outro momento
Estamos só eu e a figura
de outro amor em movimento.

Mente Escrava

Existe mais mundo do que eu pensava
Quando o mal se despede enfim
Eu logo esqueço da mente escrava
Que resumia esse mundo a mim.

Dilema do Tempo

O presente ainda tá todo escuro
Alguma coisa vem andando errado
Anseio logo pelo novo futuro
Mas não consigo largar o passado

Defeito, Amor Perfeito

Confesso a você que não tenho defeito
Se me pede pra amar, amo mais
Só não peça pra ser de outro jeito
Juro, só isso que o meu amor não faz

Verdade Inconsciente

O silêncio incomoda seu sono.

Ao cair nesse mundo onírico

Espantou-se com a verdade

Que nem ele, nem o eu-lírico

Sequer justificam como

A Sorte

A sorte é feita de coisa rara
Entende o fraco que não aposta
Indiferente com quem encara
Quanto a certeza: ela não gosta.

Samba Só

Se meu violão dissonante arrisca um som
Pode até ser que vire samba ou canção
Mas sem batuque, ou desvairada
Um samba só não é de nada.

Conselho Simples

O mestre nos disse uma vez:
Tenha mais de uma escolha
Se a primeira trair vocês
Ainda resta uma nova em folha

Nuvem de Festa

Nuvem escura, dia de festa
Tape um pouco a janela com a mão
Quando o vento entra pela frestra
ele logo vira uma canção

Não há Mistério

Todo mistério que te ronda
Se comparado ao oceano
É só a crista de uma onda

Porque o mistério é humano

Rio

Acordei na cidade do Rio
Da terra, e do mar que as vezes
se juntam e eu sorrio
Nesse Rio de todos os meses

Céu de Asfalto

Quando o sol perder a cor
Vou esquecer do céu no alto,
se o azul se esvair no escuro.
E se quiser me livrar da dor
Vou procurar as nuvens no asfalto
E me estirar nesse céu duro

Vida de Criança

A tempestade vem depois
Começamos na bonança
Se não há melhor fase pois
que a vida de ser criança

Sonhado

Avise aos desavisados
Que os iludidos viram de perto
A verdade crua como um tiro certo.
E ainda, que de repente, a sanidade
no amor se fez presente.

Traição

A traição não afaga o peito
De quem vive na desilusão
Não tem jeito
A traição não afaga o peito
De quem engana o coração

Marcas

É a marca na pele da veia
É a marca da cicatriz
É a marca do pé na areia
São marcas de uma vida feliz

Minhas Saudades

Guardo meu choro pras minhas saudades
O tempo de agora só entala a garganta
Me conformo em mentir quando é só vontade
Aprendi que chorar antes não adianta

Curvas

Pra quem se beijava quando brigava
Ou quando amava o próprio ócio
Lá na frente uma voz tênue avisava:
A curva do amor é a mesma do ódio.

Vida Fingida

Tristeza e alegria mista
No ralo o pó e a maquiagem
do palhaço e do ilusionista
rumo a mais outra viagem.

Farsa

Inventei um motivo falso
Pra ter você bem pertinho
Nosso amor é também o percalço
E a pedra no meu caminho

Sem Futuro

O que não foi não será mais.
Sem futuro e ambição
o vaso de flores que cai
estilhaça o coração.

Meio Amor

Sabe, eu só tenho um
Que já é mais que meio amor nenhum
Olha, vou te dizer
Meio amor já é bastante pra sofrer


(co autoria Victor Rosa)

Amor Pleno

Queria um amor pleno
Desvendado de mistério
Mas como se meu sonho é terreno
e o meu amar é aéreo?

Primeira tarde de Verão

Pássaros dão rasante na maré calma
Ao leste o sol encontra a cordilheira
O ar da tarde é lento e limpa a alma
Da chuva forte de uma semana inteira

Dor vazia

Há tanto tempo não a via

É certo que estive ausente

Precisei de uma viagem

Tem vezes que a gente

se rende a covardia

Depois procura a coragem

Sede

Toda a sede de ganhar a luta
Acaba logo no primeiro gole
Um bom sábio não fala, escuta
Um bom lutador não cospe, engole

Revolta

Para entender uma revolta
Esqueça o revoltado
Quando o ódio volta
A causa fica de lado

Dia de Sol

Um pedaço de sol amarelo
No meio do firmamento
Quem sabe suaviza o tormento

Pra um dia ficar mais belo

Flor da Manhã

Me disseram que existe uma flor
Que sempre vai bem-me-querer
Essa flor não precisa crescer
Tampouco saber do amor

As duas armas

Nasci pra esse jogo de sangue com duas armas na mão
A primeira dá tiro certeiro, mata, e não deixa ferida
A segunda não tem mira boa, erra o alvo e salva uma vida
Assim mesmo eu nunca abro os olhos, tiro uma delas e atiro pro chão
E se ouço um gemido de dor não escolhi a arma certa, não escolhi não

UM VERSO POR DIA...

Esse ano uma vontade já muito antiga vai ser realizada nesse blog. Já ajudo a escrever o Cena Seguinte, mas vou reservar esse espaço pra extravasar minhas ideias mais líricas. A princípio vou tentar ser fiel ao nome do blog...Espero que gostem